Contos e fábulas



A lenda de São Longuinho

Gravura de Severino Ramos

Longuinho foi um soldado que viveu na época em que o rei Herodes procurava o Menino Jesus para matar. Ele era o chefe dos soldados do rei. Quando São José conduzia o jumentinho com a Virgem e o Menino, em direção ao Egito, os soldados tinham ordem para não deixar passar ninguém, mas Longuinho não obstou a passagem da Sagrada Família. Os soldados voltaram e disseram ao rei que as suas ordens foram descumpridas, e o malvado ficou tão furioso, que mandou furar os dois olhos de Longuinho.

Passado muito tempo, o cego Longuinho se misturava a uma multidão aglomerada em frente a uma igreja onde um padre celebrava uma missa. Pelo povo o cego soube que havia um curador fazendo milagres.


O cara de pau


Pele de Asno. Gravura de Gustave Doré.

UM rei tinha uma filha tão formosa que, ficando viúvo, quis casar-se com ela. A moça era afilhada de Nossa Senhora e ficou horrorizada com o pensamento do pai, mas esse ameaçou-a de morte se não o recebesse por marido. Não sabendo o que fazer, a moça rezou muito a Nossa Senhora pedindo seu auxílio e ouviu umas vozes dizendo:

 Pede um vestido cor do campo com suas flores!

menina pediu o vestido e o pai mandou fazer e o trouxe feito, tão bonito que era uma maravilha. Outra vez foi a menina chorar e as vozes disseram :

 Pede um vestido da cor do mar com todos os peixes.

Feito o pedido, o rei juntou todos os artistas e conseguiu o vestido como era desejado. Novamente a menina correu aos pés de Nossa Senhora e as vozes ensinaram:

 Pede um “vestido cor do céu com suas estrelas, o sol e a lua”.


O Diabo e o Andarilho

Gravura de Severino Ramos

Quem esteve no lançamento do livro Contos e fábulas do Brasil se encantou com a presença de Guilherme Pereira da Silva, de Serra do Ramalho, Bahia. Narrador de algumas histórias registradas no livro, “seu” Guilherme apresentou, para o público, o conto O Diabo e o Andarilho, que integra o rol dos contos maravilhosos. O conto, no qual o diabo figura como auxiliar mágico, está reproduzido abaixo:

No tempo em que todo país era governado por um rei, viveu um velho muito rico que tinha um único filho. E esse rapaz, de uma hora para outra, achou de sair pelo mundo, para conhecer novas terras. O pai tentou fazê-lo desistir da ideia, mas... qual! Ele estava resolvido! O velho, então, pegou duas bulocas de dinheiro, mandou preparar um burro, entregou tudo ao fi lho e se despediu dele, abençoando-o. O moço colocou viagem. Andou, andou, sempre parando no local onde havia uma igreja velha para reformá-la.

 Depois de muito andar, avistou uma capela velha, caindo aos pedaços. Pagou uns homens para reformá-la. Eles fi zeram conforme o combinado, mas deixaram de pintar uma imagem do Diabo num quadro. Ele fez questão de que os homens cuidassem de tudo e a imagem foi restaurada. O rapaz, satisfeito, prosseguiu a viagem, indo parar num reino distante. Lá, pediu arrancho a uma velha. Ela o recebeu, pois viu que ele era endinheirado. O rapaz, então, perguntou-lhe:

 — Minha velha, nesse reino eu vi uma igreja precisando de reparo. Será que eu posso pagar uma reforma?


Toco Preto e Melancia, um conto novelesco





Era uma vez um homem que vivia com a mulher e as filhas. Uma de suas filhas se apaixonou por um rapaz que morava nas redondezas. Pelo fato de o moço ser tropeiro, o pai dela não permitia o casamento, alegando que ele viajava muito e não parava em casa. Ela respondeu que ele viajava para ganhar a vida, mas que se tratava de um bom rapaz:
   — Quem vai casar com ele sou eu, e não o senhor, meu pai!
 Como não adiantava reclamar, a moça e o rapaz começaram a namorar escondido. Um dia, combinaram um encontro na roça de mandioca do pai dela, onde tinha um toco preto no lugar de uma árvore queimada. Ele disse:
   — Nós vamos nos encontrar toda semana no dia tal.

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